terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Por que os homens devem assistir ao filme 50 Tons de Cinza




Essa mulher está louca, né? Posso ouvir os pensamentos daqui, de frente ao computador. O filme, que vem quebrando a internet com apenas alguns dias em cartaz, tem despertado reações variadas. Coisa que já vinha acontecendo antes mesmo da estreia. Assim como o livro. Ou melhor, os livros. A minha curiosidade veio de uma amiga, que leu o livro antes de ser lançado no Brasil. Juliana, você tem que ler. Ah, é, mas porquê? Porque eu adorei. E foi assim que entrei - de cabeça - no universo cinza do Sr. Christian. 

Mesmo não sendo uma especialista em literatura "sensual", gosto pra caramba de ler. E de tudo. Não tenho o menor preconceito literário. Mas prefiro livros à filmes, e não por intelectualismo barato, mas porque a imaginação sempre me seduziu. E não é que no final das contas você não consegue parar de ler? O enredo tem falhas em vários pontos e algumas situações não fazem o menor sentido na vida real. Mas isso são apenas detalhes para um livro que nunca prometeu nada mais que diversão.

A história da hoje milionária E.L. James, lançado em 2012, traz a história de Christian Trevelyan Grey, o multimilionário CEO e maníaco por controle e da quase ingênua Anastasia Steele. 50 Tons de Cinza ganhou o mundo - e dois livros sequência: Cinquenta Tons de Liberdade e Cinquenta Tons Mais Escuros. 

E foi por isso que, três anos depois de ler a Trilogia, voltei, há cerca de um mês antes da estreia do último dia 12, a ler o primeiro livro. Acompanhei atenta à escolha do ator e da atriz para os papéis principais. Me diverti com as especulações e, de cara, confesso que não gostei da atriz escolhida. Queria alguém como a Kristen Stewart, meio sem graça por definição. Mas me acostumei a Dakota Johnson. Mesmo sendo filha de gente famosa, os atores Melanie Griffith e Don Johnson, nunca havia ouvido falar dela antes. Acho que por isso deu certo. Ponto pra eles. Já Jamie Dornan para o papel de CTG foi, na minha opinião, a escolha perfeita, porque ele tem cara de Christian Grey. Além disso, pode ser visto como um serial killer em The Fall. Como não amar?

A parte curiosa é que, agora, depois de tanto tempo, reler o livro, mas com os personagens na cabeça, me fez enxergar outras coisas. E elas mudaram. Parando de imaginar com eles seriam, sobrou muito mais tempo para reavaliar o enredo e os rumos da história. A única coisa que não mudou é a graça de acompanhar como eles jogam com a sedução. E isso, Christian Grey sabe fazer muito bem. E não sou eu quem está dizendo, mas sim os milhões de exemplares vendidos em todo o mundo.

Mesmo com toda movimentação, apenas as mulheres assumem a vontade de assistir ao filme. Já vi muita mulher se inspirar com algumas passagens do livro e usar com seus "Christians Greys". O mesmo poderia acontecer com os homens, mas parece que tá meio difícil este encontro com o Sr. Cinza. A frase é: não li, não vou assistir e quero ver depois essas mulheres reclamando pelos seus direitos. Uma pena. Então eu insisto: se sua mulher, namorada, noiva, ficante ou qualquer outra coisa quiser assistir ao filme, vá com ela. Você pode não gostar de nada do que verá na tela, mas não poderá negar que passar duas horas no escurinho do cinema, de mãos dadas e em clima de romance com sua amada, será uma delícia. Quem sabe você sairá, no final da sessão, não devendo nada mesmo ao Sr. Christian Grey ;) 

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Um dia de merda

Dezessete abas abertas no navegar. Eu contei, porque não cabia mais. E tudo sobre Eduardo Campos. Queria ler, queria saber, queria acreditar. Começou no almoço. Recebi a notícia de um amigo da redação, não acreditei. Mandei um whatsapp para amiga que trabalha na campanha dele. É verdade? É, Ju, tá confirmado, ele morreu. Tem gente que acha que pulei de alegria, porque jornalista é tudo assim mesmo. Errado. Fiquei perplexa. Morreram mais pessoas com Campos, mas como não chocar primeiro com a morte dele? O cara é candidato, um presidenciável, impossível separar um político de um ser imortal.

A redação só tinha caras de desespero e surpresa. Todo mundo se perguntando se era mesmo verdade. E notas subindo. Confirma informação daqui, quer ajuda? dalí. Nessa hora, entretenimento se mistura com hardnews, porque o que você quer é ajudar. Quer que dê certo, quer descobrir, dar a informação. Jornalista que não sente isso, desculpa, não é jornalista.

As horas passam, as notícias se multiplicam, e você ali, vendo tudo. Não dá pra desligar. As redes sociais explodem, gente dando opinião. Um que lamenta, o outro faz piada. Chega a dar raiva, porque você não consegue se separar do papel de profissional, mas tem coisa que mexe com as entranhas. Piadas de mau gosto, brincadeiras sem graça, gente querendo falar só por falar. Triste. Uma vida, duas vidas, sete! Outro telefonema da amiga, emocionada agora, sentindo a dor de ver um cara pra quem ela trabalha morrer. 

O dia é um caos. Excesso de informação, especulação e, claro, gente metendo o pau na imprensa. Pra que saber quem vai assumir o lugar dele? Como se diz por aí, a vida continua. Se Campos morreu e era o terceiro colocado numa campanha presidencial, é claro e natural que seja esclarecido o que vem depois. Se Marina será ou não candidata, ainda há tempo, mas cada um de nós, brasileiros, tem a obrigação e o dever de saber. 

Fim do dia. Uma cerveja, por favor? Roda de amigos e cabeça no lugar. Essa é a hora que qualquer jornalista sente e avalia com o lado pessoal o que se passou. Um dia triste. A morte trágica de profissionais que estavam fazendo o seu trabalho, a morte de um pai de cinco filhos e que enterrou uma vida pública promissora. 

Era político? Sim, político. Era corrupto? Não sei. O que eu sei é que estou chocada com a morte dele como fiquei com as vítimas do avião da TAM. Como fiquei chocada com a morte dos Mamonas Assassinas. Porque jornalista também se choca. Jornalista sente dor, pena, raiva, indignação, e qualquer outra coisa característica do ser humano. O que tenho pena, pena mesmo, é de ver tanta gente escolhendo outros governantes para estarem no avião que caiu, no lugar de Campos, ou apontar nomes para o responsável pela tragédia. Me entristece ver as mesmas pessoas  criticando a postura da imprensa, acusando de se aproveitar da situação e, ao mesmo tempo, desejando que Aécio ou Dilma estivessem no avião. 

Vi amigos jornalistas dando depoimentos no Facebook narrando o dia de hoje. E digo a vocês, ninguém gostou do que viu. Noticiar tragédias se faz necessário. O que é desnecessário é ver gente desejando a morte de outras pessoas como se tivesse anunciando a venda do carro. Este, infelizmente, é o país que vivemos. Se você deseja que os seus representantes morram, só consigo lembrar da frase: cada povo tem o governante que merece.

Aos amigos jornalistas que só puderam pesar a tragédia quando bateram o cartão e se viram fora do trabalho, parabéns pela eficiência de separar a perplexidade pessoal da determinação profissional. São momentos como estes, de ouvir a voz embargada de uma amiga jornalista me dando a confirmação da morte de Campos, que cada um escolhe a forma como quer sobreviver na sua profissão. E hoje, mesmo sendo um dia de merda, eu tive certeza que fiz a escolha certa. 

segunda-feira, 24 de março de 2014

Encoxada é bom



Enconxadores. Este é o novo termo que tenho ouvido na última semana pra definir os caras que assediam mulheres no metrô. Opinião sobre este assunto eu tenho há muito tempo, porque sempre usei este tipo de transporte. Mas por incrível que pareça, tenho visto mulheres fazendo piada sobre o assunto. Homens dizendo que também são vítimas das "encoxadas" (rindo, claro). E último, mas não menos importante, gente dizendo que as mulheres andam com roupas pouco adequadas para estes meios transporte.

Encoxada pra mim é sinônimo de coisa boa. Já ouvi gente dizendo que foi encoxada no carnaval e a-d-o-r-o-u. Gente que encoxou a namorada na cozinha depois do jantar. E mulher que adora receber uma "encoxada" do namorado.

Por isso, o que acontece todos os dias dentro dos ônibus, trens e lotações não se chama "encoxada". É tentativa de estupro. E com a gravidade da situação, o assunto não deveria ser discutido com enquetes na internet, com achismos no Twitter ou de gente em qualquer outra rede social. Isso é caso de polícia.

Essa banalização das coisas tem queimado os neurônios das pessoas? Pela ânsia de ter que opinar sobre nada ou todo assunto, acabam falando o que bem entendem.

Já ouvi um cara indignado porque um homem chegou às vias de fato com uma das mulheres no metrô. As vias de fato que digo aqui é que o homem chegou ao final da masturbação, inclusive, sujando a vítima. Pois é, meu caro. Isso existe e, infelizmente, não é novidade.

Isso acontece há anos no Brasil. Há anos quem usa transporte público sabe que o que existe lá dentro é coisa que fere o direito de qualquer cidadão. Mas quem usa estes meios de transportes não consegue chamar a atenção para o problema de superlotação. A histeria agora aconteceu porque o caso caiu nos meios de comunicação. Temos gente surpresa com notícia velha.

Um caso idêntico ao que citei acima, da "masturbação completa", aconteceu com uma amiga há exatos dez anos. Há uma década os trens já eram lotados e já carregavam este mesmo tipo de gente. Só queria explicar a essas mulheres que "dão risadinhas" com o termo "encoxadores" e esses homens que também estão reivindicando o seu direito de não ser encoxado, que o buraco é "mais embaixo".

Mais do que sujar a roupa, ou no caso, a calça da minha amiga (sim, calça, porque ela não é dessas que usam roupas provocantes no metrô, ok?) uma situação dessas acaba com a dignidade da mulher. Além da roupa suja lembrando do assédio o tempo todo, ela sofreu um abuso, foi usada por alguém sem consentimento.

Em meio ao choro desesperado dela, copos de água com açúcar, garanto que foi quase impossível tentar acalmá-la. O que eu tentei naquele momento foi dividir aquela humilhação para que ela conseguisse entender que a vítima era ela e que tudo acabaria bem. Mas eu falhei. Porque é impossível sentir uma humilhação que não viveu. E falhei porque depois disso não se fica bem. Não tem como ficar bem. E sabe por que não?

Porque este episódio nunca será esquecido. Pelo menos por ela. Ou por mim. E o cara? Bem, o cara foi satisfeito para onde quer que seja. Para o trabalho, casa ou atrás da próxima "encoxada". O fato é que nem eu, nem você e nem minha amiga jamais saberemos que fim levou, porque situações como essas não são tratadas com a seriedade que merecem. A discussão vem com achismos, risinhos idiotas ou, de uma forma mais "responsável", com indignação. Mas geralmente só é feita por quem passa todos os dias bem longe de um vagão lotado.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

"Um Dia" para ser esquecido



Eu adoro ver indicação de livros. Na internet, dos amigos, de alguém que já leu. Quando as pessoas falam, aquela empolgação é tão verdadeira que eu não aguento e tenho que saber como é. É quase inveja. Depois da capa de um livro, um texto sobre ele é o que mais me faz comprá-lo. Compro livro por qualquer motivo. Menos quando todo mundo está lendo. Acaba sendo tão superestimado que geralmente me decepciona. 

Mas lembra de Um Dia? Vi uma resenha de um cara, um colunista que eu leio faz tempo e que gosto muito dos textos e do bom (senso) gosto, dizendo que o livro era muito bom. Acabei me interessando. Mas meu pé foi para trás na hora. Como assim excelente? Não tem como um livro com aquela proposta ser excelente. Pelo menos, não pra ele. Na hora baixei o livro e fui louca pra casa ler. O que tem aí dentro que o pegou de jeito?

Foram exatamente dois dias e 408 páginas de ansiedade. Fiquei esperando o livro ficar bom, mas não ficava. Ele era tão denso em detalhes que ficava enjoativo. Parecia querer compensar o que eu já previa. A falta do arremate final, sabe? Aquilo que você não imagina que alguém possa imaginar. Algumas partes do livro se perderam e até agora não consegui encontrar o desfecho. Desconfio que foi o meu desinteresse. 

Faltando 47 páginas para o final, parei. Cansei. Virar cada página pesava. Insisti. Até que o que eu pensei ser óbvio demais pra qualquer livro sem história, aconteceu. A protagonista morreu. A mocinha lutadora, sofredora e inteligente morre. Coragem matá-la assim. Argumento que só pode ser usado num roteiro muito sensacional. O que não foi o caso. O autor precisava desviar o olhar da história desencontrada. E o que poderia dar mais certo do que a tristeza? A morte comove e perdoa qualquer erro. É a redenção. 

Mas não foi pra mim. Ainda não entendi como um livro tão falado pode ter uma história tão sem graça, como um romance pode ter tão pouca emoção. Se você leu a trilogia 50 Tons de Cinza, não precisa ler Um Dia. Porque no quesito joguinhos amorosos, o casal Grey se saiu bem melhor.  




terça-feira, 7 de maio de 2013

The show must go on

Meu primeiro show fora do Brasil. Bon Jovi vem me fazendo companhia nas vitrolas, rádios e iPods da vida há mais de 20 anos. Era doidinha pra saber como seria um show deles em outras terras. Pouco tempo antes da data, Richie Sambora deixa a tour - e os meus nervos à flor da pele. Será que pode ser cancelado? Como assistir Bon Jovi sem Richie Sambora?

Staples Center, sexta-feira, 19 de abril, saio do hotel e vou para lá com quase três horas de antecedência achando que estaria lotado de fãs. Porta tranquila, mas que começou a mudar nas próximas horas com um aglomerado de senhoras maquiadas, com saltos altíssimos, camisetas da banda e muito brilho e paetê. Talvez essa seja a maior diferença entre esta e as outras apresentações que tive a oportunidade de ver.

Procurando meu lugar, ainda tinha a esperança que Richie aparecesse. Especulações vinham de todos os lados. Por que não acreditar? Mas ele não apareceu. Como Phil X se comportaria no palco? Ouvi dizer que ele tem um ego bem grande. Será que Jon estaria diferente? Fiquei imaginando como seria Wanted Dead or Alive sem aquele chapéu de cowboy.

Começo de show, muita música nova, What About Now bombando em vendas, e mesmo com todo o engajamento, bem mais empolgante ao vivo do que em estúdio. Agradecimentos pra lá, FBI e Boston pra cá - e Jon mais solto do que nunca no palco. Phil X também. Som perfeito e muita coisa velha. Raise Your Hands me pegou de jeito. Passei dois dias cantando "from New York to Chicago"!

A banda intercalou músicas de todos os álbuns, coisa pra brilhar os olhinhos de qualquer fã. Até que Keep The Faith começa, junto com a minha certeza que não seria a mesma coisa sem Richie. E não foi mesmo. O novo guitarrista não fez feio, mas terminou sem Jon, que deixou o palco no final. Já vi tudo, pensei. Jon não vai segurar a onda até o fim e, em determinadas músicas, vai ser clara a ausência de Richie.

Mas foi a única parte que algo me pareceu estranho. Jon voltou ainda mais empolgado, dançando como nunca, e cantando duas covers, Bruce Springsteen e Rolling Stones, que fez o coro ser ouvido nas redondezas do ginásio.

Agora era esperar pelas próximas. I'll Be There for You me emocionou, com uma multidão repetindo todos os gritos pedidos por Jon que, com 51 anos, entrava e saía do palco dizendo que se estávamos cansados, ele não, e que tocaria "mais algumas". E vem Dry County, uma das minhas canções favoritas, me surpreendendo e confirmando por que decidi escolher a California e não qualquer outro lugar do mundo para as minhas férias.

Foram tantos "bis" que fiquei me perguntando de onde a banda tira aquela energia toda depois de anos de estrada. Nem imagino quantas pessoas estavam ali, mas o fato é que a banda é uma empresa perfeita. Há quem diga que as letras são melosas e não acrescentam nada a ninguém. Coisa que eles jamais prometeram. Sempre disseram que apenas dariam duas horas de diversão ao público. E nesta noite, em Los Angeles, eles deram mais que isso. Foram mais de três horas de profissionalismo, reboladas, solos e sintonia, além da certeza do por que se tornaram uma das principais bandas do mundo.

Se Jon Bon Jovi é proprietário da banda, seus funcionários continuam seguindo o seu exemplo e trabalhando muito bem. Bem ao estilo "o show tem que continuar". Phil X não era exatamente quem eu queria ver, mas se saiu muito bem. Mesmo desconhecendo ao certo os motivos que fizeram Richie Sambora se afastar, entrei no show achando que ele faria falta, mas ao final do show, quando as luzes acenderam, tive absoluta certeza de que ele é quem deve ter sentido muito por não estar ali.




segunda-feira, 30 de abril de 2012

Não basta educação, tem que ter prioridade

Dias atrás, vi uma reportagem não me lembro onde, sobre crianças que viviam nas ruas nos Estados Unidos. Quando vi a chamada para a matéria, me interessei em ver como vivem crianças na rua em outro país. Na hora, lembrei das crianças aqui no Brasil, que decoram a cidade com o que ela tem de pior, a pobreza, a falta de esperança e o retrato do abandono.

Para minha surpresa, as crianças viviam em trailers com seus pais, ou em abrigos. Tinham acesso a quase tudo, como comida, higiene e, principalmente, educação. Mesmo morando na rua, elas tinham sonhos, planos e o mais importante, dignidade.

Não que isso seja suficiente, não é este o ponto, mas o que me surpreendeu, foi a luta dos pais para não tirar dessas crianças o direito de estudar. No caso da garotinha que morava com a família num trailer, o pai a pegava na escola, levava em um restaurante para comer e depois a levava para uma biblioteca para que pudesse estudar, fazer o dever de casa e usar a internet. Rotina de todos os dias.

Essa é a diferença. Prioridades. O pai se importava com os filhos, com a falta das necessidades básicas que uma casa pode proporcionar, mas o que ele realmente não deixava de fazer, era acompanhar a filha  ao lugar que lhe trará o direito de conquistar sozinha o mundo, de pensar, de escolher o caminho a seguir.

Essa reportagem acabou clareando exatamente o que está estampado todos os dias em nossa cara. Mas eu não quero ver. O brasileiro não quer estudar. Ele não aprendeu desde cedo a importância disso, porque simplesmente o nosso país não tem a cultura da educação. Porque não faz sentido hoje um povo inteligente, instruído ou que consiga buscar e encontrar o próprio caminho a seguir.

Num país com essa falta de vontade, não pode mesmo crescer, não pode nunca curar o poder da corrupção, de brigar pelos direitos, de reclamar da roubalheira do Judiciário. Como exigir educação de um povo que prefere se divertir com tanta bobagem a realmente descobrir coisas úteis? Como acreditar num país onde programas de TV imbecis são referências para a sua forma de agir?

Artistas péssimos, sem carisma ou talento é que estão na crista da onda e ofendem a inteligência das pessoas como se isso fosse regra. E viramos soldadinhos deles, marchando de acordo com o rumo que querem que a gente siga. Em qualquer área.

Não estou falando em uma vida sem diversão, mas sim em uma diversão com hora marcada. Vale se divertir, vale ver porcaria e vale entender o que acontece ao redor. Só não vale aceitar que a imbecilidade ou a falta de talento determine o curso de sua vida.

Não deve ser tão difícil educar os filhos ou dar exemplos onde a escola e os livros são lugares seguros onde, sem desculpa, você tem a opção de ser aquilo que deseja ser. Que seja satisfatório ou não, mas que a escolha seja sua. Aguentar as consequências de suas escolhas, daí, já renderia uma nova história.






quarta-feira, 25 de abril de 2012

Revirando arquivos

Achei uma entrevista que fiz há quatro anos com Danilo Gentili. Engraçado como em tão pouco tempo as coisas mudam.

A impressão que eu tenho é que somente ele não mudou. Um menino muito educado, gentil e que me recebeu muito bem, sem frescuras ou papas na língua.

Apaixonado por quadrinhos, contou que estava na expectativa de conseguir uma editora que publicasse o primeiro livro dele.

A íntegra ficou guardada no meu gravador, já que a pauta era somente tecnologia. Mas me lembro bem que o mais interessante da conversa não tinha nada a ver com a vida virtual dele.

Veja como não mudou o discurso, apenas o alcance dele.

Humor 100% conectado

Juliana Zorzato

Ele fica online 24 horas por dia. Ou quase isso. Ultimamente, esteve envolvido em polêmicas com o alto escalão de Brasília. Danilo Gentili vem desafiando alguns políticos e fazendo muito segurança exercitar a paciência. Tudo isso na TV, através do programa CQC, da Rede Bandeirantes. Fora das telas, pelo Orkut, blog, MSN e vídeos no YouTube, ele vê sua carreira de comediante alavancar e ganhar cada dia mais admiradores. Por meio do twitter, mantém o humor com mais de 100 mil seguidores.

Conheça um pouco da antiga relação desse andreense de 29 anos com a tecnologia e como vem administrando sua relação com os fãs depois que a exposição toda na internet mudou sua rotina de solitário internauta à protagonista de brigas de fãs em seu perfil do Orkut.

PC Magazine - O brasileiro tem senso de humor?

Danilo Gentili - O brasileiro tem autoestima baixa. Se mexer com político eles ficam putos. Nos Estados Unidos, eles têm humoristas para falar só dos políticos. Aqui se leva tudo muito a sério. Se você fizer piada tem um monte de segurança em cima de você.

O stand-up comedy mudou a cara do humor no Brasil?

Na TV não mudou muita coisa, a Zorra Total continua tendo audiência. Mas fora isso acho que mudou um pouco sim. O público de stand-up é diferente. É gente nova, da internet.

Como funciona o processo de criação dos textos?

Eu vejo uns assuntos que eu quero muito falar e faço o texto. Pra fazer uma coisa boa leva um tempo.

Para quanto tempo de show?

Sozinho uma hora, se for junto, de dez a 15 minutos.

Depois de toda a exposição na TV e no YouTube, a validade dos textos diminuiu?

Não muito, o público não é o mesmo. Ele muda, vai revezando.

E o número de shows aumentou. A grana aumentou também?

A negociação é sempre a mesma, o que aumentou foi o número de shows.

Está mais fácil escrever os textos, tira de letra?

Estou cada dia mais preocupado com a qualidade. Sei que as pessoas esperam coisas boas e sempre busco fazer o melhor.

Se acontece algo no dia, dá pra improvisar?

Ah, aí, eu escrevo no blog.

Os posts estão ficando cada vez mais escassos? Tá faltando tempo?

Eu não faço que nem muita gente por aí, que posta qualquer coisa. Não vou ficar escrevendo coisas que não são interessantes. Eu espero acontecer algo legal para aí sim escrever. No meu blog antigo era mais despreocupado, porque não tinha tanta gente lendo. Hoje mudou.

Como se mantém informado, nas pautas do programa e para seus textos no blog?

Me informo pela internet. Dou um Google, busco as informações do que quero.

E na vida pessoal? A invasão de privacidade com Orkut, blog, MSN... A ligação direta com os fãs te deixam preso a eles? Você é cobrado pela rede?

Sim. O pior é que as pessoas que gostam do meu trabalho são as que mais me cobram. Mas se querem que eu continue trabalhando, precisam me deixar trabalhar.

Houve até briga no seu perfil do Orkut entre fãs, não?

Umas meninas começaram a se xingar e entraram outras no meio. Eu até parei de olhar. Daí fiz um comentário lá e outras garotas disseram que sou grosso. Mas no Orkut você se expõe, se estou lá, não posso reclamar.

Então não vai ter outro perfil no Orkut?

Não, de jeito nenhum. Eu só não apago esse porque já tenho há muito tempo. Nos e-mails a mesma coisa. Tem gente que reclama porque eu não respondo e-mail. Mas se eu ficar respondendo e-mail eu não faço mais nada.

O que mudou na rotina de shows desde o início até agora, com CQC e internet?

Eu já viajava antes do CQC. E sempre com casa cheia. O problema agora é que às vezes eu tenho gravação no dia de um show marcado há dois meses. E tenho que cancelar.

Um ponto positivo e negativo da rede.

O ponto positivo é que você aparece. O ponto negativo é que você aparece.

Você é refém da internet? Quanto tempo consegue ficar sem?

Ah, não fico sem. Eu me viro, vou na lan house, levo notebook.

Fora da internet, o que gosta de fazer?

Gosto de comer (risos). De comer e de conversar com meus amigos.

Stand-up ou CQC?

Acho que ainda tenho coisas para fazer no CQC.

Qual a maior piada do Brasil?

O brasileiro.

Fonte: PC Magazine