segunda-feira, 24 de março de 2014

Encoxada é bom



Enconxadores. Este é o novo termo que tenho ouvido na última semana pra definir os caras que assediam mulheres no metrô. Opinião sobre este assunto eu tenho há muito tempo, porque sempre usei este tipo de transporte. Mas por incrível que pareça, tenho visto mulheres fazendo piada sobre o assunto. Homens dizendo que também são vítimas das "encoxadas" (rindo, claro). E último, mas não menos importante, gente dizendo que as mulheres andam com roupas pouco adequadas para estes meios transporte.

Encoxada pra mim é sinônimo de coisa boa. Já ouvi gente dizendo que foi encoxada no carnaval e a-d-o-r-o-u. Gente que encoxou a namorada na cozinha depois do jantar. E mulher que adora receber uma "encoxada" do namorado.

Por isso, o que acontece todos os dias dentro dos ônibus, trens e lotações não se chama "encoxada". É tentativa de estupro. E com a gravidade da situação, o assunto não deveria ser discutido com enquetes na internet, com achismos no Twitter ou de gente em qualquer outra rede social. Isso é caso de polícia.

Essa banalização das coisas tem queimado os neurônios das pessoas? Pela ânsia de ter que opinar sobre nada ou todo assunto, acabam falando o que bem entendem.

Já ouvi um cara indignado porque um homem chegou às vias de fato com uma das mulheres no metrô. As vias de fato que digo aqui é que o homem chegou ao final da masturbação, inclusive, sujando a vítima. Pois é, meu caro. Isso existe e, infelizmente, não é novidade.

Isso acontece há anos no Brasil. Há anos quem usa transporte público sabe que o que existe lá dentro é coisa que fere o direito de qualquer cidadão. Mas quem usa estes meios de transportes não consegue chamar a atenção para o problema de superlotação. A histeria agora aconteceu porque o caso caiu nos meios de comunicação. Temos gente surpresa com notícia velha.

Um caso idêntico ao que citei acima, da "masturbação completa", aconteceu com uma amiga há exatos dez anos. Há uma década os trens já eram lotados e já carregavam este mesmo tipo de gente. Só queria explicar a essas mulheres que "dão risadinhas" com o termo "encoxadores" e esses homens que também estão reivindicando o seu direito de não ser encoxado, que o buraco é "mais embaixo".

Mais do que sujar a roupa, ou no caso, a calça da minha amiga (sim, calça, porque ela não é dessas que usam roupas provocantes no metrô, ok?) uma situação dessas acaba com a dignidade da mulher. Além da roupa suja lembrando do assédio o tempo todo, ela sofreu um abuso, foi usada por alguém sem consentimento.

Em meio ao choro desesperado dela, copos de água com açúcar, garanto que foi quase impossível tentar acalmá-la. O que eu tentei naquele momento foi dividir aquela humilhação para que ela conseguisse entender que a vítima era ela e que tudo acabaria bem. Mas eu falhei. Porque é impossível sentir uma humilhação que não viveu. E falhei porque depois disso não se fica bem. Não tem como ficar bem. E sabe por que não?

Porque este episódio nunca será esquecido. Pelo menos por ela. Ou por mim. E o cara? Bem, o cara foi satisfeito para onde quer que seja. Para o trabalho, casa ou atrás da próxima "encoxada". O fato é que nem eu, nem você e nem minha amiga jamais saberemos que fim levou, porque situações como essas não são tratadas com a seriedade que merecem. A discussão vem com achismos, risinhos idiotas ou, de uma forma mais "responsável", com indignação. Mas geralmente só é feita por quem passa todos os dias bem longe de um vagão lotado.

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