segunda-feira, 23 de maio de 2011

Pedro Juan Gutiérrez - Nada como ter percepção de si mesmo

A primeira vez que li Trilogia Suja de Havana foi também a primeira vez que li Gutiérrez. Não dá pra parar. É uma leitura tranquila, gostosa, que você já começa a pensar no próximo que vai ler.

Agora nunca pensei que pudesse encontrá-lo ao vivo. E melhor, escutar o que ele pensa. Ele me fez perceber em uma hora o quanto a vida é simples. Simples só pelo fato da gente parar de complicá-la.

Existe muito rótulo, muita intolerância e gente chata. Gente politicamente correta dá nos nervos. Eu concordo com ele quando diz que a liberdade é que traz a reflexão. Acredito nele porque, de certa forma, eu consigo sentir intensidade nas coisas, assim como ele escreve.

Posso sentir o mesmo ódio e desprezo como ele sente desejo por suas mulheres. Posso sentir o cansaço e a luta de conseguir transpor regras e fazer do seu jeito. Mesmo que pagando o preço por tudo isso.


Em seus livros é possível enxergar o autor tendo a percepção de si mesmo e a explicação de se reconhecer enquanto lê. E não pela mesma vida, moro no Brasil, ele vive em Cuba. Mas conseguir absorver a fórmula, não as palavras.

Ele é tão intenso que te obriga a ser também. E da maneira mais profunda e dolorosa que isso possa ser.

Eu posso odiar, como posso amar. Posso desistir ou lutar por quem ou o que eu quiser.

Mas o que não dá é para parar de tentar entender o que se passa em cada gesto do mundo, das pessoas, dos lugares e de quem os torna vivos, prontos para transformar as suas experiências de cada dia em pequenas histórias de vida.

Ele me ensinou tudo isso. Eu agradeço e assino embaixo!


segunda-feira, 16 de maio de 2011

Se otimismo é bom, então guarde pra você

Eu não gosto muito de ler autoajuda. Digo com a convicção de quem já leu vários. Por gosto, pra ver se ajudava ou só pra descer goela abaixo mesmo. Mas até aí, tudo bem. 

Se você gosta, é válido pela leitura. Só não queira sair por aí distribuindo amor por todos os lados. Tem dias que eu não quero ser positiva. Quero sentir raiva e preciso de liberdade e espaço pra isso.

Então, não adianta me falar que tenho que ser otimista, que precisamos pensar em coisas boas ou querer ensinar como ter uma vida mais feliz. Isso é coisa de gente que acabou de sair de algum ritual, reunião, grupo de estudo ou seja lá o que for. 

Não recrimino. E nem venha me acusar de bulling. Me poupe disso, por favor. Só não aceito que seja desta forma. Eu aprendi que temos que ser otimistas, positivos e elevar o pensamento.

Mas você, amigo otimista, também deve ter ouvido que encontrar este equilíbrio tem de ser de verdade e convivendo com pessoas que te proporcionem essa vibração. De graça, sem imposição.

Então, quando eu quiser sentir raiva, não me diga o contrário, porque não estará ajudando. Percebe que energia atrai energia?

Faça o seguinte: primeiro equilibre suas energias e, ao invés de me mandar ficar calma, tente acalmar ao seu redor, e mantenha sempre a boca fechada.

Daí, se for o mesmo ar que eu respiro, com certeza o seu silêncio vai me ajudar muito mais do que a sua ordem, que com certeza vai entrar por um ouvido e sair pelo outro, assim, de mansinho. A casa agradece.



sábado, 14 de maio de 2011

Trilogia Nua e Crua

Eu nunca fui à Cuba. Mas era um dos planos do primeiro ano de faculdade. Aquele que se faz com a amiga e que você jura que não vai falhar. Mas falha. 


Não fomos à Cuba, mas adoro ouvir relatos de quem esteve por lá. Pelo motivo que for. De férias, a trabalho ou para um contrabandozinho. Eu sempre gostei de saber dos detalhes daquele lugar, algo a mais do que Fidel e socialismo.


Eis que cai em minhas mãos um livro de Pedro Juan Gutiérrez, presente de um amigo, Trilogia Suja de Havana (Alfaguara, 2008) e que hoje posso confessar uma certa paranóia com ele. Racionalizei as páginas e só lia dez por dia. Por conta daquela sensação ruim de que ele vai acabar.

O autor, Pedro Juan, é um jornalista nascido em Cuba em 1950 e que consegue mostrar Havana da maneira mais crua que se possa imaginar. Exatamente com a mesma verdade e com o mesmo impacto do relato de uma amiga, que saiu do Brasil para comprar charutos. 

Ela, assim como ele, moraram em casas comuns, no centro de Havana e conviveram com toda a realidade que a classe média jamais conseguirá compreender “pois não se pode saber de nada sem enfiar o pé na lama”.

São 348 páginas de vida comum, contada de maneira até agressiva de tanta realidade. Suas experiências na cadeia, o comércio de qualquer coisa que movimenta a cidade – e que faz com que as pessoas não morram de fome – a relação com o sexo, tão intenso quanto sua aversão por mulheres perfumadas. 

Pedro é tão direto que a todo momento você pode sentir o cheiro dos cortiços, o suor do sexo enaltecido por ele e da criação de porcos e galinhas no quintal.

Trilogia Suja de Havana é um relato de vida corajoso, de quem se acostumou a viver no lixo, e que não consegue mais se abalar com isso. 

É um relato de quem nunca desistiu de lutar por uns dólares, de ir para “os states” ganhar a vida, ou simplesmente de correr atrás de um gole de rum.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Ele tá de saia, de bicicletinha...

O mundo todo só fala na morte de Osama bin Laden. Mas eu sinceramente queria que outra coisa morresse. As ideias mirabolantes de nosso prefeito Kassab. Tô pensando até em cancelar a minha assinatura do jornal.

Explico: Ontem, domingão, uma matéria me fez perder a vontade de ler. Kassab, nosso prefeito, teve mais um insight maravilhoso para ajudar a nossa cidade. 

Segundo reportagem da Folha de SP, ele proibiu vagas de estacionamento para os novos prédios da Cohab (conjunto habitacional popular). 

O motivo que ele alega é que encarece a obra. Humm, é mesmo? Nem vou comentar porque esse é só o segundo motivo. O primeiro é que, dessa maneira, ele pode forçar a população a andar de bicicleta. 

Imaginou? Todo mundo atravessando a cidade para trabalhar... de bicicleta? Temperatura ótima pra gente chegar no trabalho limpinho, cheiroso. Várias ciclovias em boas condições. 


Lugares seguros pra gente parar a bicicleta. Borracharias especializadas a cada esquina da cidade. E a vantagem: em dias de chuva não correremos o risco de perder o carro.

Na verdade deve ser realmente uma boa ideia. Assim, os transportes públicos ficam ainda mais lotados e acabam desafogando o trânsito para os mais abastados moradores da cidade. E as pobres montadoras não vão precisar frear as vendas.

Se você faz parte da população de baixa renda, aproveite. Além de comprar a sua casa com menor custo, você será ecologicamente correto. Nunca foi tão elegante ser pobre.Vai dar certinho. E vai acontecer.