terça-feira, 12 de abril de 2011

Oscar Wilde + Colin Firth = sofrimento

Eu adoro ir ao cinema. Saio sempre com a sensação de que deveria ir muito mais. Mas tenho preguiça. O fechamento do Belas Artes me fez lembrar que a última vez que tinha entrado numa sala tinha sido exatamente lá, pra ver Ensaio Sobre a Cegueira.

Depois disso, só Cisne Negro e Discurso do Rei. Meio óbvio, eu sei, mas eu gostei mesmo assim. Colin Firth me faz ir ao cinema, comprar filme pirata, baixar arquivo no notebook, passar na locadora ou assistir pelo YouTube. Pra mim, ele é perfeito.

Já Oscar Wilde é o cara por quem tenho ódio. Ele é tudo aquilo que eu mais queria ser, faz tudo aquilo que eu queria fazer e pior, escreve tudo aquilo que eu queria escrever. Mas não consigo.

O Retrato de Dorian Gray foi o seu primeiro livro que li. Depois li de novo e parei. Não pode ser que alguém pense daquela forma. Eu não podia deixar de assistir a versão cinematográfica de um livro desse.

Cinema tranquilo, sala vazia e pipoca,  além de uma companhia inesperada. Uma senhorinha muito elegante que começa a puxar papo. Estava tão convicta da falta de expectadores quanto eu da minha vontade de ver o filme.

Para quem não queria companhia além da tela, me apaixonei por ela bem rápido. Ela me contou sobre as peças de Oscar Wilde que havia assistido na Inglaterra e de todas as vezes que leu os seus livros. Quando tinha 17 anos e agora, que releu tudo.

A conversa acaba assim que começa o filme. A história é sobre a beleza e perpetuação de tudo aquilo que se ela pode proporcionar. Quando a pureza do coração ou qualquer coisa de bom que possa existir já não importa tanto quanto a promessa da eterna juventude.

Não é tão simples assim quando você tem de pagar o preço pela sua própria vaidade. O limite, ou a falta dele, te transforma em algo novo e ruim, mas não para aqueles que te veem, mas pra si mesmo.

Quem só enxerga a beleza está no mesmo patamar de quem a idolatra. A dúvida fica em torno da pureza daquele coração antes de ser envenenado. Será mesmo que alguém seja capaz de mudar outra pessoa?

A certeza com que tudo lhe é apresentado, sussurrado em seu ouvido por Henry, faria qualquer um se render. E me pergunto: quem melhor do que Colin Firth para me convencer?

A riqueza de detalhes do livro causa a impressão de que no filme o lindo e jovem Dorian Gray leva pouco tempo para se transformar num monstro. A imagem do quadro se desfazendo e armazenando toda a crueldade lembram até um filme de terror. Mas tudo se passa rápido demais, como se alguém tivesse resumido a história.

Mas o inacreditável do livro e do filme é perceber que a vida dele termina exatamente no mesmo lugar de onde começou. Mas que a pureza daquele coração será sempre questionada, porque não se pode amar e ser puro ao mesmo tempo que se quer dominar o mundo. É apenas uma questão de escolha. Ou de genética.

Resta saber se alguém resistiria à tentação da beleza eterna.

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